domingo, 28 de novembro de 2010


A RELAÇÃO PROFESSOR-ALUNO SOB A PESPECTIVAS DAS ABORDAGENS DE ENSINO

Partindo de uma analise de MIZUKAMI* , sobre a relação professor e aluno, podemos definir com maior profundidade e abrangência o colapso deste tema. A autora nos mostra como essa relação tem se construído ou até mesmo se “destruído” dentro das diversas concepções teoricas!

Abordagem Tradicional
Esta relação é vertical e o mestre ocupa o centro de todo o processo, cumprindo objetivos selecionados pela escola e pela sociedade. O professor comanda todas as ações da sala de aula e sua postura está intimamente ligada à transmissão de conteúdos. Ao aluno, neste contexto, era reservado o direito de aprender sem qualquer questionamento, através da repetição e automatização de forma racional. (p.14-15)

SAVIANI (1991), referindo-se à relação professor e aluno, na escola tradicional, mostra-nos que o professor: "transmite, segundo uma gradação lógica, o acervo cultural aos alunos. A estes cabe assimilar os conhecimentos que lhes são transmitidos.” (p. 18)
Ainda sob esta perspectiva, o aluno para ter acesso ao conhecimento tinha de passar pelo professor, que era quem mediava à relação. Assim, o professor controlava todas as ações exigindo dos alunos obediência que, por outro lado, era também exigida na empresa ou na indústria. Desta forma, pensar, questionar era coisa do chefe ou do dono da empresa.

Abordagem Comportamentalista
Segundo MIZUKAMI (1986), o professor é um planejador do ensino e da aprendizagem que trabalha no sentido de dar maior produtividade, eficiência e eficácia ao processo, maximizando o desempenho do aluno. O professor, como um analista do processo, procurava criar ambientes favoráveis de forma a aumentar a chance de repetição das respostas aprendidas. (p.31-32)

Segundo SAVIANI (1991), neste contexto: " o elemento principal passa a ser a organização racional dos meios, ocupando o professor e aluno posição secundária, relegados que são a condições de executores de um processo cuja concepção, planejamento, coordenação e controle ficam a cargo de especialistas supostamente habilitados, neutros, objetivos e imparciais."(p. 24)

Abordagem Humanista
Nesta abordagem as qualidades do professor (facilitador) podem ser sintetizadas em autenticidade, compreensão empática - compreensão da conduta do outro a partir do referencial desse outro - e o apreço (aceitação e confiança em relação ao aluno). (p.53)

O professor como facilitador da aprendizagem, aberto às novas experiências, procura compreender, numa relação empática, também os sentimentos e os problemas de seus alunos e tenta levá-los à auto-realização. A responsabilidade da aprendizagem (objetivos) fica também ligada ao aluno, àquilo que é mais significativo para ele, e deve ser facilitada pelo professor. Portanto, o processo de ensino depende da capacidade individual de cada professor, de sua aceitação e compreensão e do relacionamento com seus alunos.

Abordagem Cognitivista
A mesma autora, coloca que o professor atua investigando, pesquisando, orientando e criando ambientes que favoreçam a troca e cooperação. Ele deve criar desequilíbrios e desafios sem nunca oferecer aos alunos a solução pronta. Em sua convivência com alunos, o professor deve observar e analisar o comportamento deles e tratá-los de acordo com suas características peculiares dentro de sua fase de evolução. (p.77-78)

O professor passa a criar o cenário necessário, pensando no estágio de desenvolvimento em que o aluno se encontra, para que o aluno possa explorar o ambiente de forma predominantemente ativa. Neste ponto, o aluno não é um ser que recebe a informação passivamente, ele deverá experimentar racionalmente atividades de classificação, seriação e atividades hipotéticas. Assim, o professor sempre oferecerá ao aluno situações problemas que tragam a eles a necessidade de investigar, pensar, racionalizar a questão e construir uma resposta satisfatória.

Abordagem Sócio-Cultural
MIZUKAMI (1986) afirma que a relação entre o mestre e o aprendiz é horizontal, professor e aluno aprendem juntos em atividades diárias. Neste processo, o professor deverá estar engajado em um trabalho transformador procurando levar o aluno à consciência, desmistificando a ideologia dominante, valorizando a linguagem e a cultura. (p.99)

Nesta abordagem, o diálogo marca a participação dos alunos juntamente com os professores. Os estudantes são partes do processo de aprendizagem que procura enfatizar a cooperação e o trabalho coletivo na resolução dos problemas sociais.


referência bibliográfica
SAVIANI, Dermeval. - Escola e Democracia. São Paulo: Cortez Editora, 25ª edição, 1991.

*MIZUKAMI, Maria. G. N. Ensino: As abordagens do Processo. São Paulo: EPU, 1986


Fonte:http://depoisdaaula.blogspot.com/2009/04/relacao-professor-aluno-sob-pespectivas.html

quinta-feira, 18 de novembro de 2010

Sete perguntas sobre textos memorizados na alfabetização | Língua Portuguesa | Nova Escola

Sete perguntas sobre textos memorizados na alfabetização Língua Portuguesa Nova Escola

                                                       Beatriz Vichessi (bvichessi@abril.com.br). Colaborou Ana Rita Martins



Respostas às dúvidas mais comuns sobre como e por que usar textos que as crianças sabem de cor no ensino da leitura e da escrita
 
 
Interpretações equivocadas sobre o uso de parlendas, cantigas de roda e outros textos que as crianças sabem de cor na alfabetização ainda são comuns. Para responder às sete dúvidas mais frequentes sobre o assunto, NOVA ESCOLA consultou a bibliografia disponível sobre o tema e a especialista em alfabetização Telma Weisz.




1 Por que propor atividades de leitura e de escrita?



"Elas mobilizam saberes distintos e consequentemente ensinam coisas diferentes", explica Telma. Para ler textos que sabem de cor, as crianças têm de fazer a correspondência entre as partes do texto que já sabem com os trechos escritos, descobrindo a relação entre fonema e grafia, conhecendo letras novas e como se dá a segmentação das frases em pedaços menores e independentes, as palavras (leia a sequência didática). Já na situação de escrita, precisam colocar em cena o nível do conhecimento do sistema alfabético e o que já sabem a respeito da escrita convencional. Com baese em tudo isso, fica claro que ambas devem ser realizadas em sala e que uma não é pré-requisito para outra.



2 Quais textos memorizados devo usar para alfabetizar?



Qualquer cantiga de roda, parlenda ou adivinha que os alunos apreciem. O importante é que todos eles saibam o conteúdo de cor e mentalmente. O que define a complexidade da atividade são as particularidades do material e as interações do educador, responsável por criar boas situações de aprendizagem.



3 É interessante propor que escrevam em quartetos?



Não. O processo de interação entre as crianças é muito importante e, quando se trabalha com muita gente reunida, ele não é satisfatório. Escrever a oito mãos é difícil até para os adultos. É melhor organizar duplas, levando em conta as hipóteses de escrita (pré-silábica, silábica, silábico-alfabética e alfabética) para que o trabalho seja realmente produtivo.



4 Na leitura, o que precisa ser problematizado?



Encontrar partes da totalidade ou do verso levando em conta o que os alunos já sabem. Não se trata de caça-palavras, mas de uma situação que faz o grupo enfrentar desafios a respeito da relação entre parte e todo. Por exemplo, perguntar onde está escrito domingo em "Hoje é domingo,/ pede cachimbo". Para responder, as crianças têm de fazer corresponder o falado com cada pedaço escrito. Quer dizer, precisam localizar o verso e depois o que foi perguntado. Têm de pensar como dividir o que falam para que encontrem a palavra no exato lugar em que ela está.



5 E na de escrita? Quais são os desafios?



As crianças, para escrever, precisam pensar quais e quantas letras usar e em que ordem colocá-las. Em fase de alfabetização, não é óbvio que tudo o que se fala possa ser escrito na ordem em que é dito. Outros pontos interessantes para explorar com eles são a escrita de artigos, monossílabos e palavras curtas, já que isso vai contra a ideia que os alunos têm que para escrever são necessárias no mínimo três letras.



6 A lista de nomes da turma pode servir de apoio?



Para atividades que tenham como foco a leitura, não. "Lê-se para escrever, mas não para ler", diz Telma. Para localizar fragmentos do texto, os alunos precisam pensar em como vão partir do falado para tal, o que vão considerar como um pedaço para achar todos os pedaços. Não é necessário buscar pistas fora do material: o problema é descobrir onde está escrito, não o que está escrito. Para desafios que envolvem a escrita, sim: pesquisar em fontes externas o jeito certo de escrever o fragmento que se quer é útil. Para escrever "cachorrinho está latindo", se as crianças recorrem à lista de nomes e encontram Camila e Karina, o professor tem uma situação para discutir.



7 É válido o grupo ditar para o professor escrever?



Sim, desde que ele atue como se só soubesse as letras, ou seja, não deve agir como um escriba. Tem de ser simplesmente a mão que escreve o que os estudantes ditam, incluindo aí os espaços entre as palavras. Porém é importante observar que, se existirem alunos alfabéticos na sala, a atividade não funcionará. Facilmente eles darão conta do desafio sozinhos, ditando letras ao educador que os demais nem conhecem ainda.



Quer saber mais?



BIBLIOGRAFIA

Psicopedagogia da Linguagem Escrita, Ana Teberosky, 151 págs., Ed. Vozes, tel. (24) 2233-9000, 29 reais



INTERNET

Texto Situações de Leitura na Alfabetização Inicial: A Continuidade na Diversidade, de Mirta Castedo.

Texto Lectura de un Texto que se Sabe de Memória, de Mirta Castedo (em espanhol).

domingo, 14 de novembro de 2010

Jogos educativos | Nova Escola




Jogos educativos Nova Escola





Para o filósofo e historiador holandês Johan Huizinga, os jogos fazem parte de todas as fases da vida e estão na base do surgimento da civilização. Já para a doutora em Psicopedagogia, Rosely Brenelli, eles podem ajudar na aprendizagem das crianças. Confira aqui os jogos online produzidos por NOVA ESCOLA e os aplique com as turmas. Mais: um desafio para você avaliar seus conhecimentos sobre os clássicos literatura. Boa diversão!


domingo, 7 de novembro de 2010

Avaliação na Educação Infantil: o portfólio

Rosa Costa



Vamos desmistificar o portfólio na Educação Infantil. Pensar que ele pode representar um mapa que mostra o universo de cada criança, o resgate de todo um trabalho
metodológico que permeia o aprendizado desenvolvido na sua especificidade, com ênfase na oralidade, na literatura infantil (contação de história), explorando atividades que envolvam o lúdico, o imaginário, a música, o teatro, as inteligências múltiplas e a criatividade existente em cada passo da criança aprendiz.

Navegar é preciso, educar não é preciso. A precisão na educação é relativa, o tempo de cada criança depende do seu relógio cronológico, do seu momento, das suas descobertas e dos estímulos pedagógicos que o educador pode e deve oferecer.

O portfólio na Educação Infantil é um caminho mapeado pelo desejo de formar, formar para a vida, para a cidadania, envolvendo educador e educando, descobrindo a diversidade implícita em cada um, respeitando as diferenças, garantindo um relatório fidedigno e coerente para o final de cada bimestre pedagógico e assegurando uma ampla análise e reflexão sobre o perfil do educando.

A dualidade que envolve o processo de avaliação traz um novo olhar, uma nova percepção do que devemos refletir pedagogicamente sobre o conceito de avaliar. De acordo com Rebeca Edmiaston (2004), “Tal processo pode ser definido como um processo pelo qual podemos observar, documentar e interpretar o que as crianças sabem, o que fazem, como raciocinam e como as atividades e as práticas da sala de aula facilitam ou impedem sua aprendizagem”.

A aplicabilidade do portfólio na Educação Infantil permite ao educador um reconhecimento do nível de aprendizagem do educando, a partir do momento em que se faz e refaz uma atividade em uma perspectiva construtivista, voltada para uma análise qualitativa, possibilitando ao educando um despertar da sua curiosidade, acompanhando seu desenvolvimento e embarcando na ampliação do desejo do outro, que sonha com voos vazantes no mundo mágico das fantasias infantis. Devemos encorajar as descobertas e a construção do seu conhecimento, motivando-o pelo desejo de aprender, descobrindo modalidades de aprendizagem, trabalhando as questões motora, visual e cognitiva, numa proposta inovadora, diferenciada e comprometida com a produção do conhecimento do educando. Como afirmaram Elizabeth Shores e Cathy Grase (2001), “A avaliação baseada em portfólio pode e deve concentrar a atenção de todos (das crianças, dos professores e dos familiares) nas tarefas importantes do aprendizado O processo pode estimular o questionamento, a discussão, a suposição, a proposição, a análise e a reflexão”.

O dia a dia na sala da Educação Infantil é revivido por um aprendizado compartilhado entre o educador e o educando, com jogos, brincadeiras, interpretação e reconto das histórias infantis (contos de fadas). Sabemos que essa prática é determinante para os educandos nessa etapa. Aguçar a leitura e sua interpretação será uma das prioridades na abertura de janelas e portas para o mundo do conhecimento, o primeiro passo para as descobertas de uma viagem sem fim no mundo encantado das letras, o início da alfabetização e do letramento.

Entendemos, enquanto conceito, que o portfólio na Educação Infantil também possibilita identificar quais os reais objetivos da aprendizagem, quais foram cumpridos e quais não foram alcançados. Ele se apresenta em três modelos: particular, de aprendizagem e demonstrativo.

• Portfólio particular é aquele que guarda informações pessoais do educando, incluindo dados sigilosos, e fica reservado na secretaria da instituição.

• Portfólio de aprendizagem (processo-fólio) é aquele que apresenta toda a coleção de atividades do educando, sua trajetória bimestral, o resultado de um processo de construção de conhecimento, realizado e analisado em três vias a cada bimestre.

• Portfólio demonstrativo é o resultado de algumas das atividades catalogadas, com grande relevância para o processo de transição do educando, e que é encaminhado para o educador que vai trabalhar com ele no ano seguinte.

O portfólio na Educação Infantil é construído (montado) em uma pasta transparente, com plásticos, cujo objetivo é anexar as atividades diversas, como recortes, colagem, fotos, atividades desenvolvidas através da linguagem oral e escrita, pictórica, matemática, todas comprometidas com o tema que está sendo trabalhado no bimestre. Esse instrumento também tem sido um dos mais utilizados pela Pedagogia Construtivista devido ao seu caráter reflexivo e dinâmico, proporcionando ao educador uma reflexão crítica sobre o material coletado e uma avaliação processual, numa perspectiva mais ampla do saber, da qualidade e construção desse saber, da forma de pensamento que caracteriza o educando.

As autoras Elizabeth Shores e Cathy Grase apresentam um processo de montagem na construção do portfólio em dez passos; com certeza, eles facilitarão sua prática pedagógica dando uma melhor compreensão do conceito de portfólio, favorecendo sua aplicação e sua avaliação. São eles:

• Estabelecer uma política para o portfólio.
• Coletar amostras de trabalhos.
• Tirar fotografias.
• Conduzir consultas aos Diários de Aprendizagem.
• Fazer entrevistas.
• Efetuar registros sistemáticos.
• Realizar registros de casos.
• Preparar relatórios narrativos.
• Conduzir reuniões de análise de portfólio em três vias.
• Usar portfólios em situações de transição.

Sobre os dez passos apresentados pelas autoras, acreditamos que cada item possui a sua devida importância, mas acrescentamos que a parceria entre os três níveis (educador, educando e família) é aspecto fundamental para confirmação do processo transformador da avaliação na Educação Infantil, favorecendo o trabalho coletivo vivenciado lado a lado na parceria com uma “nova” meta de ensino-aprendizagem.

A proposta de apresentar o portfólio em três vias, ou seja, o encontro entre o educador, o educando e a família em reunião de análise e reflexão do portfólio é um momento pedagógico que caracteriza um dos passos de maior relevância para o desenvolvimento cognitivo do educando. A apresentação do portfólio em três vias tem um objetivo maior: a apreciação da produção do educando, com atividades construídas e reconstruídas, demonstrando o crescimento pedagógico alcançado por ele de forma gradativa. Desenvolve-se, assim, um patamar de oportunidades e descobertas que vão estimular sua aprendizagem através de cada vivência, motivando-o a um novo refazer, aumentando sua autoestima e contribuindo para uma reflexão significativa, dando início ao compromisso e à autonomia do educando. Essa prática será de grande valia para desabrochá-lo nas questões cognitivas que estão latentes na sua formação.

O educador também terá a oportunidade de refletir sobre sua prática pedagógica, fazendo uma autoavaliação sobre em que momento deverá retomar as atividades de insucesso que porventura surgirem no seu grupo de trabalho. Como redimensionar os problemas de aprendizagem para melhor contribuir com o educando e como fazer da sua prática docente um caminho permanente de aprendizagem.

A pesquisadora Kátia Stocco Smole, estudiosa da Teoria das Inteligências Múltiplas, de Horward Gardner (1994), relata que esse instrumento é também denominado de processo-fólio e reflete a crença de que os estudantes aprendem melhor, e de uma forma mais integral, a partir de um compromisso com as atividades que acontecem durante um período de tempo significativo e que se constrói sobre conexões naturais com os conhecimentos escolares.

A observação também é fundamental na avaliação da Educação Infantil, ou seja, em qualquer processo avaliativo. A observação individual ou do grupo vai possibilitar ao educador um amplo conhecimento do educando, o que, atrelado à reflexão e análise deste, trará uma grande riqueza de informações que vão diagnosticar as questões de aprendizagem que poderão interferir de ordem positiva ou negativa (sucesso ou insucesso), permitindo uma intervenção qualitativa no processo de ensino-aprendizagem do educando. Ainda acrescentamos que a observação individual do educando possibilita o seu conhecimento, privilegiando uma visão panorâmica da sua socialização no grupo, do seu desempenho físico, da sua produção intelectual, das abordagens que envolvem as inteligências múltiplas, numa perspectiva pedagógica, social e psicológica, não deixando de privilegiar a parceria com a família e todo um trabalho minuciosamente registrado e catalogado com um objetivo maior: avaliar o educando dentro de uma proposta construtivista.

O registro faz parte desse processo. Registrar todas as ocorrências, resgatar o que foi perdido, repensar o que não foi compreendido pelo educando e encontrar estratégias de aprendizagem são questões que, só através do registro diário, possibilitarão ao educador refazer sua prática pedagógica. Também irão definir o perfil do educando de acordo com o registro de suas habilidades nas atividades solicitadas. É função do educador fazer uso do registro em todo o processo de montagem para o portfólio, sendo uma recomendação de grande ajuda na sua concretização. O registro é a fonte, é o seu arquivo, é a base de um processo que permitirá a escrita de um relatório final fiel à produção do portfólio.

Contudo, fez-se jus do conceito de Hernández (2000), que referencia o portfólio como:

[...] um continente de diferentes tipos de documento (anotações pessoais, experiências de aula, trabalhos pontuais, controles de aprendizagem, conexões com outros temas fora da escola, representações visuais, etc.) que proporciona evidências do conhecimento que foi sendo construído, das estratégias utilizadas para aprender e da disposição de quem o elabora para continuar aprendendo.

Apresentamos o portfólio como o verdadeiro caminho da aprendizagem para uma Educação que prioriza a qualidade, sem rótulos, sem preconceitos, sem camuflagem, com compromisso de cooperação, respeito mútuo e afetividade,firmado entre educador, educando e família. A reflexão e a interpretação das abordagens em sala de aula são o espelho das atitudes do educando. Sua percepção analítica vai identificar como ele está raciocinando e construindo o seu conhecimento. O portfólio ainda é um recurso de maior fidelidade avaliativa. O educador que vivencia a avaliação enquanto processo, com certeza, fará desse recurso mais um aprendizado, trazendo grande contribuição ao processo de ensino-aprendizagem.

Sendo o construtivismo coadjuvante neste artigo, cabe acrescentar que o conhecimento se dá a partir de uma construção, e nunca como um produto pronto e acabado, é na ação-reflexão-ação que desenvolvemos o processo de ensino-aprendizagem, com metodologias favoráveis ao contexto do cotidiano escolar, gestando competências e exacerbando o desejo imenso de criar, produzir e agir diante da construção do conhecimento.

Em suma, é determinante para o educador, enquanto facilitador das questões pertinentes ao renascer de mais um aprendiz, permitir ao educando sua parcela de curiosidade, estimulando-o a perguntar, indagar, criticar e construir seu conhecimento em parceria com o educador. Acreditamos piamente que só será possível exercitar todo o processo se, realmente, for selado um compromisso entre educador e educando no sistema de avaliação processual, avaliação que prima pela qualidade através de momentos de satisfação, prazer, curiosidade de querer saber; logo, querer aprender.

Referências Bibliográficas

FERREIRO, Emília. Alfabetização em Processo. Trad. Sara C. Lima, Maria do N. Paro. São Paulo: Cortez, 2001.
DEVRIES, Rheta. O Currículo Construtivista na Educação Infantil: Práticas e Atividades. Porto Alegre: Artmed, 2004.
HERNÁNDEZ, Fernando. Cultura Visual, Mudança Educativa e Projeto de Trabalho. Trad. Jussara Haubert Rodrigues. Porto Alegre: Artmed, 2000.
HERNÁNDEZ, Fernando. Transgressão e Mudança na Educação: os Projetos de Trabalho. Trad. Jussara Haubert Rodrigues. Porto Alegre: Artmed, 1998.
SHORES, Elizabeth & GRACE, Cathy. Manual de Portfólio: um Guia Passo a Passo para o Professor. Porto Alegre: Artmed, 2001.
SMOLE, Kátia Cristina Stocco. A Matemática na Educação Infantil: a Teoria das Inteligências Múltiplas na Prática Escolar. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.
Rosa Costa é educadora, mestranda, especialista em Recursos Humanos e pedagoga.
E-mail: rosacostaf@ig.com.br.


Fonte:http://www.construirnoticias.com.br/asp/materia.asp?id=1534

sábado, 30 de outubro de 2010




DISTRIBUIÇÃO DE LIVROS INFANTIS GRATUITOS


O Itaú está distribuindo gratuitamente 8 milhões de livros.


http://www.lerfazcrescer.com.br/#/home

quarta-feira, 27 de outubro de 2010


Construindo o Saber


O ato de ler pertence aos elementos essenciais do universo. Segundo Paulo Freire, todos somos leitores e só a partir dessa certeza é que tudo o mais no mundo cria-se e recria-se. Através da leitura, o homem forma conceitos e questiona sentidos, generaliza palavras e particulariza idéias, comunica verdades e desconstrói hipóteses.

Sem a leitura, nada no universo da linguagem é possível, e “tudo” só é possível pelo viés do universo da linguagem.

Quando um professor conta histórias em sala de aula, ele consegue levar ao seu aluno. Um dos elementos mais necessárias ao desenvolvimento do ser humano: a ação de criar, recriar, imaginar, ir além do real e conseguir ser mais sensível, mais feliz. Na verdade, todo professor deve ser um leitor, pois só assim poderá auxiliar na formação de leitores.

A seguir, sugerimos, através do texto de Linda Campbel “alguns tópicos” que servirão à reflexão sobre o assunto ora abordado.

Os professores como contadores de histórias

Quando os recursos não estão prontamente disponíveis, ou quando um professor deseja explorar o conteúdo do ensino de várias maneiras, contar histórias oferece uma opção que encanta tanto ouvintes jovens quanto adultos. Qualquer assunto ou tema adquire vida quando é narrado como uma história. Além disso, pessoas de todas as idades acham mais fácil reter uma informação quando ela é codificada em uma história. Mesmo que muitos entre nós aleguem não ser contadores de histórias, todos realmente o somos! Cada um de nós tem histórias de sua vida que gosta de compartilhar, muitos gostam de contar piadas, narrar sonhos ou até fazer “fofoca” sobre os outros - uma prática que pode ser a base para futuros contos populares ou lendas.

Histórias Temáticas

De onde podemos extrair histórias para a sala de aula? De nos-sas próprias experiências de vida. A lembrança de suas próprias reações quando criança ao se deparar com as disciplinas escolares pode proporcionar ao professor histórias da vida real para compartilhar com os alunos que estão aprendendo um conteúdo semelhante. Reelaborar um conteúdo temático como uma história é outra opção que é mais fácil do que de início pode parecer. Um enredo pode ser rapidamente criado identificando-se os personagens principais e algum desafio com os quais eles se confrontam. Os professores podem refletir sobre o conteúdo que planejam ensinar e considerar quais personagens e enredo aparecem como possibilidades para a narração de histórias. Além disso, os alunos estão quase sempre ansiosos para criar e contar histórias que incorporem o conteúdo escolar.

As Dimensões Culturais da Narração de Histórias

Contar histórias é também uma maneira poderosa de proporcionar aos alunos um insight sobre a história e sobre culturas diferentes. Os alunos podem interessar-se por saber que a narração de histórias é mais antiga do que a história escrita. Antes da leitura e da escrita serem comuns, as narrativas transmitiam a história oral de uma cultura - incluindo as esperanças, os medos, os valores e as realizações de seu povo.

Por exemplo, durante a época da escravidão nos Estados Unidos, as histórias assumiram também um outro propósito. Como os escravos não tinham permissão para se reunir em grupos com mais de cinco pessoas, nem falar ou escrever em seus idiomas africanos nativos, nem escrever em inglês, eles inventaram histórias de animais para criar um sentido de comunidade que lhes era negado. O animal que escolheram para muitas de suas histórias foi o coelho - um ser tão impotente quanto os escravos, mas que também sabia de tudo o que acontecia a seu redor, embora por necessidade per-manecesse silencioso. O coelho chamava-se Coelho Brer. Escutando as histórias do Coelho Brer, os alunos podem desenvolver empatia com os escravos que o criaram como personagem central do seu folclore.

Recursos Multiculturais da Narração de Histórias

Há muitos recursos disponíveis para o professor que deseja apresentar os alunos a outras culturas, em parte contando histórias. Quando são contadas histórias multiculturais, os professores podem pedir aos alunos que escutem e reúnam informações sobre várias culturas. Depois de escutar uma história, os professores e os alunos podem discutir a estrutura e a sua mensagem, além de suas implicações culturais. As sugestões propostas incluem:

Qual é o local da história?

Que valores a história transmite?

Como a linguagem é usada na história?

A história reforça alguns estereótipos?

A história diminui alguns estereótipos sobre essa cultura?

Os bibliotecários da escola e do município geralmente conhecem muitos recursos para a narração de histórias e estão prontos para identificar histórias para acompanhar qualquer estudo cultural.

Os alunos como contadores de histórias

Alguns alunos irão alegremente apresentar-se como voluntários para contar histórias para os colegas. Outros acharão a idéia assustadora. Escutar histórias envolve várias habilidades de escuta, enquanto contar histórias requer habilidades lingüísticas. Contar histórias, uma forma divertida e importante de comunicação lingüística, ensina aos alunos o ritmo, o tom e as nuances da linguagem. Os educadores interessados em estimular a narração de histórias em suas salas de aula podem considerar as seguintes diretrizes:

Diretrizes para a Narração de Histórias:

1. Exemplifique você mesmo a narração da história.

2. Identifique contadores de histórias locais para visitar sua classe. Você pode descobrir se há uma associação de contadores de histórias perto de você ou talvez, como na Filadélfia, um contador de histórias oficial da cidade.

3. Ajude os alunos a encontrarem histórias - a partir do conteúdo das aulas, de sonhos, acontecimentos familiares ou escolares, histórias que eles já conhecem, antologias ou entrevistas com pessoas mais velhas

4. Ensine aos alunos algumas habilidades da narração de histórias, tais como:

. começar com uma abertura interessante;

. não aumentar muito o número de personagens;

. certificar-se de que a história contém imagens que os ouvintes podem “ver” ou imaginar;

. estimular o uso de comparações e metáforas;

. animar os pontos-chave da história com efeitos sonoros, voz, gestos e movimentos corporais;

. manter a voz clara, expressiva e compassada;

. fazer contato visual com os ouvintes;

. considerar se deve ou não haver participação dos ouvintes.

5. Praticar a narração de histórias com toda a classe. O professor pode selecionar uma história e lê-la parte por parte, para a classe, pedindo aos alunos que façam sugestões pra torná-la mais viva e interessante. A classe pode ser dividida em grupos, e pode ser designada a cada grupo uma parte da história para ser aprendida e depois contada em seqüência.

6. Para contadores de histórias iniciantes, pode-se aliviar a ansiedade fazendo os alunos contarem suas histórias para pequenos grupos de quatro ou cinco colegas, em vez de contá-la para a classe toda. Os alunos que se oferecem como voluntários podem contar suas histórias para grupos maiores. Contar histórias para crianças menores, em geral, também alivia a tensão desnecessária..

CAMPBELL, Linda
Ensino e Aprendizagem por meios das Inteligências Múltiplas / Linda Campbell, Bruce Campbell e Dee Dickinson; 2. ed. trad. Magda França Lopes - Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.

Fonte: http://www.construirnoticias.com.br/asp/materia.asp?id=200

quarta-feira, 20 de outubro de 2010

A IMPORTÂNCIA DA PSICOPEDAGOGIA NO ENSINO FUNDAMENTAL – 1ª A 4ªSÉRIES


Renata T. da S. Ferreira
O presente artigo versa a importância da Psicopedagogia no ensino fundamental: 1ª a 4ª séries, para a formação do Professor/Educador/Mediador frente aos desafios surgidos pelo “ser que aprende”, evitando ou debelando o fracasso escolar em uma visão do sujeito como um todo, objetivando facilitar o processo de aprendizagem; bem como sua intervenção psicopedagógica família/escola

Palavras-chave

Psicopedagogia; Fracasso Escolar; Processo Ensino Aprendizagem; Intervenção Psicopedagógica.





Introdução



A Psicopedagogia tem por definição o trabalho com a aprendizagem, com o conhecimento, sua aquisição, desenvolvimento e distorções. Realiza este trabalho através de processos e estratégias que levam em conta a individualidade do aprendente. É uma praxe, portanto comprometida com a melhoria doas condições de aprendizagem.

A Psicopedagogia nasceu da necessidade de uma melhor compreensão do processo de aprendizagem humana e assim estar resolvendo as dificuldades de aprendizagem. Há alguns anos atrás, a falta de clareza a respeito dos problemas de aprendizagem, fazia com que os alunos com dificuldades fossem encaminhados para profissionais de diversas áreas de atuação, sem uma resolução eficiente dos problemas.

Em primeiro momento, no período de Medicalização dos problemas de aprendizagem, estas crianças eram encaminhadas ao médico: pediatra e depois ao neurologista. Em segundo momento, denominado Psicologização dos problemas de aprendizagem, onde eram encaminhadas ao psicólogo, submetendo a criança a uma bateria de testes. Frente a estas situações, não se chegava a uma explicação clara sobre as dificuldades da criança, foi-se criando a consciência da necessidade de formação de um único profissional apto a integrar conhecimentos e para atuar de maneira objetiva e eficaz, não só na resolução dos problemas escolares, mas também que atuasse na prevenção dos mesmos, facilitando o vínculo do aluno com o processo de aprendizagem e o resgate do prazer de aprender, melhorando assim, o desempenho escolar do aluno.

Assim nasceu a Psicopedagogia, cujo termo apresenta-se hoje com uma característica especial. Devido a complexidade dos problemas de aprendizagem, a Psicopedagogia se apresenta com um caráter multidisciplinar, que busca conhecimento em diversas outra áreas de conhecimento, além da psicologia e da pedagogia. É necessário ter noções de lingüística, para explicar como se dá o desenvolvimento da linguagem humana e sobre os processos de aquisição da linguagem oral e escrita. Também de conhecimentos sobre o desenvolvimento neurológico, sobre suas disfunções que acabam dificultando a aprendizagem; de conhecimentos filosóficos e sociológicos, que nos oferece o entendimento sobre a visão do homem, seus relacionamentos a cada momento histórico e sua correspondente concepção de aprendizagem.

Desta forma, a Psicopedagogia se torna um campo com conhecimentos amplos, onde se tem objeto central de estudo o processo de aprendizagem humana, seus padrões evolutivos normais e patológicos, bem como a influência do meio (família, escola, sociedade). As dificuldades escolares não podem ser explicadas apenas de um fator, esteja ele na criança, no meio familiar ou escolar e sem deve ser explicada pela interação de vários fatores. Observando seu objeto de estudo, podemos perceber a sua extensão e o quanto o psicopedagogo em formação tem que investir em seu conhecimento para a formação de sua identidade.





Papel do Psicopedagogo



O amplo conjunto de tarefas e funções realizadas pelos profissionais que prestam assessoramento psicopedagógico às escolas, apesar de sua diversidade, pode ser organizado em torno de quatro eixos (Coll, 1989b). O primeiro relativo à natureza dos objetivos da intervenção, cujos pólos caracterizam respectivamente as tarefas que se centram, prioritariamente no sujeito e aquelas que têm como finalidade incidir no contexto educacional. Assim, as tarefas incluídas são tanto as que têm como objetivo prioritário o atendimento a um aluno, quanto as que aprecem vinculadas a aspectos curriculares e organizacionais.

O segundo eixo afeta as modalidades de intervenção, que podem ser consideradas como corretivas, ou preventivas e enriquecedoras. Qualquer intervenção realizada na escola pode ser caracterizada, em um determinado momento, embora, em um momento posterior, sua consideração se modifique.

Outro eixo também diferencia modelos de intervenção, embora tenha como objetivo final o aluno, pode ter diferenças consideráveis: enquanto alguns psicopedagogos trabalham diretamente com o aluno, orientam-no e, inclusive, manejam tratamentos educacionais individualizados, outros combinam momentos de intervenção direta com intervenções indiretas, ( por exemplo, no caso de uma avaliação psicopedagógica), centradas nos agentes educacionais que interagem com ele (no próprio processo de avaliação psicopedagógica, na tomada de decisões sobre o plano de trabalho mais adequado para esse aluno). São freqüentes as consultas formuladas por um professor ao psicopedagogo em relação a um aluno que não vai manter nenhum contato direto com esse profissional.

O último eixo, Coll (1989) indica o lugar preferencial de intervenção, que entendemos como a diversidade de níveis e contextos, inclusive quando circunscrita ao marco educacional escolar. Este eixo inclui tanto as tarefas localizadas no nível de sala de aula, em algum subsistema dentro da escola, na instituição em seu conjunto, ano, série, assim como aquelas que se dirigem ao sistema familiar, à zona de influência, etc.

O fato que se deve considerar é que as tarefas que aparecem englobadas nos eixos precedentes são objeto da intervenção psicopedagógica, não significa que todos os psicopedagogos as executem em seu conjunto e, obviamente, não significa que as realizem da mesma forma.

O desempenho profissional de um psicopedagogo ou de uma equipe é influenciado também pela tradição e pela formação recebida. Com relação à tradição, aquilo que se fez sempre, aquilo que responde à percepção social sobre o papel profissional, possui uma influência direta inegável nas próprias crenças do psicopedagogo, em sua autopercepção profissional e, conseqüentemente, no que faz; indiretamente, influi também por meio das expectativas geradas por sua tarefa e pelas demandas que lhe são formuladas.

Quanto à formação, a intervenção psicopedagógica foi assumida, fundamentalmente, por pedagogos, e psicólogos, e, mais recentemente por psicopedagogos. Estes profissionais foram formados em tradições disciplinares diferentes ( psicologia escolar, psicologia clínica, psicologia social, pedagogia, terapêutica, organização escolar, orientação profissional, etc) e em diferentes escolas de pensamento psicológico que, com freqüência, fazem alusão a modelos de funcionamento do psiquismo humano abertamente discrepantes.

No Código de Ética e Estatuto da Associação Brasileira de Psicopedagogia reza no seu artigo 6º os deveres fundamentais do psicopedagogos:

a) manter-se atualizado quanto aos conhecimentos científicos e técnicos que tratem o fenômeno da aprendizagem humana;

b) zelar pelo bom relacionamento com especialistas de outras áreas, mantendo uma atitude crítica, de abertura e respeito em relação às diferentes visões do mundo;

c) assumir somente as responsabilidades para as quais esteja preparado dentro dos limites da competência psicopedagógica;

d) colaborar com o progresso da Psicopedagogia;

e) difundir seus conhecimentos e prestar serviços nas agremiações de classe sempre que possível;

f) responsabilizar-se pelas avaliações feitas fornecendo ao cliente uma definição clara do seu diagnóstico;

g) preservar a identidade, parecer e/ou diagnóstico do cliente nos relatos e discussões feitos a título de exemplos e estudos de casos;

h) responsabilizar-se por crítica feita a colegas na ausência destes;

i) manter atitude de colaboração e solidariedade com colegas sem ser conivente ou acumpliciar-se, de qualquer forma, com o ato ilícito ou calúnia.

j) O respeito e a dignidade na relação profissional são deveres fundamentais do psicopedagogo para harmonia da classe e manutenção do conceito público.





Teorias que embasam a Formação Psicopedagógica



As teorias que embasam a formação psicopedagógica, ou seja a própria identidade profissional como psicopedagogo, derivam de alguns elementos básicos e de outras áreas de conhecimento como:

1º- Ter uma formação acadêmica de nível superior voltada para a área humana, direcionado para a educação;

2º- Ter um objeto de atuação: a escola e a criança em processo de aprendizagem;

3º- Conhecer este objeto de atuação de uma forma ampla,através das teorias de desenvolvimento e de aprendizagem e suas dificuldades;

4º - Ter conhecimento sobre avaliação e recursos de atuação psicopedagógica, que possibilite ao profissional que trabalha na área, melhorar o desempenho acadêmico do aluno, como também, prevenir e remediar o fracasso escolar.





Campo de atuação do Psicopedagogo



Por se tratar de uma atividade relacionada as dificuldades escolares, a primeira vista, pensam que o psicopedagogo deva trabalhar na escola, lugar onde são produzidos a maioria dos problemas escolares, mas são vários os campos de atuação psicopedagógica; como clínica, escola, instituição de saúde ou mesmo em empresas.

A atuação do psicopedagogo não se refere apenas ao espaço físico onde ele

vai atuar, mas também ao modo dele pensar a Psicopedagogia e ao conhecimento que ele tem da área, ou seja da sua atitude psicopedagógica.

A Psicopedagogia Educacional tem como objetivo, fazer com que os professores, diretores e coordenadores educacionais repensem o papel da escola frente as dificuldades de aprendizagem da criança. Por outro lado, mesmo que a escola passe a se preocupar com os problemas de aprendizagem, nunca conseguiria abarcá-los na sua totalidade, algumas crianças com problemas escolares apresentam um padrão de comportamento mais comprometido e necessitam de um atendimento psicopedagógico mais especializado em clínicas. Sendo assim, surge a necessidade de diferentes modalidades de atuação psicopedagógica; uma mais preventiva com o objetivo de estar atenuando ou evitando os problemas de aprendizagem dentro da escola e outra a clínico-terapêutica, onde seria encaminhadas apenas as crianças com maiores comprometimentos, que não pudessem ser resolvidos na escola.

Esta pesquisa está voltada para a Psicopedagogia Preventiva ou Escolar,

oferece conhecimentos para o profissional estar atuando dentro da instituição escolar na prevenção ou atenuação dos problemas de aprendizagem, fazendo com que menos crianças sejam encaminhadas para as clínicas, além de uma melhoria no rendimento escolar em geral. Esta demanda já aparece na nova Lei de Diretrizes e Bases, de 1996, quando faz alterações substanciais na forma de entender o ensino no Brasil, tornando-se mais acentuada através das Diretrizes Curriculares Nacionais de 1999, que sugere que para melhorar o ensino há a necessidade de capacitar o professor e todos os que estão inseridos no sistema educacional.

No caso dos problemas já instalados é tarefa do psicopedagogo escolar tentar resolvê-los dentro da escola antes de encaminhamento para a clínica. O encaminhamento para a clínica deve sempre ser feito com muito critério, sempre levando em conta as necessidades específicas daquela criança. Para um encaminhamento adequado é necessário que o profissional conheça muito bem não só a criança como também a instituição que ela freqüenta.

A Psicopedagogia Escolar deve trabalhar para que a escola acompanhe o

desenvolvimento da humanidade e se constitua num verdadeiro espaço de construção do conhecimento, auxiliando para que todos que participam da escola entendam “como” e “por que” transformá-la num lugar de construção de conhecimento.

Para que um psicopedagogo possa realizar um bom trabalho é necessário que ele conquiste um espaço dentro da escola, o que nem sempre é fácil, pois a maioria das escolas acham que um orientador educacional já é suficiente para resolver todos os problemas.

Uma forma de conquistar este espaço psicopedagógico dentro da escola está na forma de como este profissional apresenta seu trabalho. Este profissional tem que demonstrar amplos conhecimentos não só da criança que aprende como também dos processos didáticos metodológicos e da dinâmica institucional. Para uma atuação institucional, deve ser considerado como ambiente educacional a escola como um todo, desde a criança que aprende, o professor que ensina, o diretor que organiza, até a merendeira que é responsável pela alimentação. Além disso, deve ser considerado a família responsável pela criança e outros membros da comunidade que decidem sobre as necessidades e prioridades da escola.

Segundo Bossa (2000), o psicopedagogo pode colaborar na elaboração do projeto pedagógico, ou seja, através de seus conhecimentos ajudar a escola a responder questões fundamentais como: O que ensinar? Como ensinar? Para que ensinar? Pode realizar o diagnóstico institucional para detectar problemas pedagógicos que estejam prejudicando a qualidade do processo ensino-aprendizagem; pode ajudar o professor a perceber quando a sua maneira de ensinar não é apropriada à forma do aluno aprender; pode orientar professores no acompanhamento do aluno com dificuldades de aprendizagem; pode ainda, realizar encaminhamentos para fonoaudiólogos, psicólogos, neurologistas, psiquiatrias infantis, entre outros.

Além disso, a relação professor-aluno é um fato importante que deve ser constantemente avaliado pelo psicopedagogo. Muitas vezes, esta relação pode estar ocorrendo de modo negativo pelo fato do professor desconhecer o aluno, estar muito distante de suas necessidades, ou não por não saber identificar a fase de desenvolvimento cognitivo/afetivo do aluno, ou mesmo, por não saber o que está se passando no ambiente familiar da criança.

O psicopedagogo escolar deve participar da reunião de pais, com o objetivo de estar esclarecendo o que se está passando com a criança na escola, podendo assim ensinar aos pais a reconhecerem as verdadeiras necessidades de seus filhos até ensinarem os pais a estimular seus filhos para aprendizagens escolares em casa. Quando necessário o psicopedagogo pode marcar hora para outros encontros com alguns pais, para melhor orientar ou mesmo conhecer melhor o ambiente familiar da criança que está com problemas.

Faz parte do trabalho psicopedagógico educacional participar da avaliação dos processos didáticos metodológicos, onde poderá oferecer conhecimentos sobre métodos a ser aplicados para determinada classe ou para ajudar o professor na implantação de uma nova sistemática de ensino, oferecendo desta forma um suporte instrumental aos professores.

É função deste profissional também oferecer um suporte emocional para professores que estão inseguros quanto a sua capacidade para aplicação de um método novo ou que estão com alunos com problemas de aprendizagem. Na medida em que o psicopedagogo ouve as dificuldades dos professores, esclarece sobre suas dúvidas, este se sentirá mais tranqüilo, ganhará mais confiança e proporcionará melhores condições para a aprendizagem.

O suporte instrumental oferecidos aos professores pode se dar também oferecendo ao professor sugestões de atividades para a sala de aula; outras vezes sua atuação será individual ou em grupo com os alunos.

Quando a atuação do psicopedagogo for trabalhar em pequenos grupos, poderá ter os seguintes objetivos: a) socialização e auto-confiança; b) orientação de estudos; c) apropriação dos conteúdos escolares; d) desenvolvimento do raciocínio e e) possibilitar o trabalho com alunos de diferentes níveis no desempenho acadêmico numa mesma classe.

Certamente cada instituição tem suas necessidades e o psicopedagogo deverá identificá-las para que efetivamente cumpra seu papel.

A atuação Clínico-Terapêutica, é praticada fora das paredes escolares, em locais especiais de atendimento, o consultório psicopedagógico; geralmente são atendidas crianças encaminhadas por outros profissionais como médicos e psicólogos clínicos infantis. Este trabalho apresenta uma etapa inicial onde se faz uma avaliação sobre os aspectos afetivos, cognitivos e pedagógicos da criança, paralelo com entrevistas de anamnese com os pais, elabora-se um estudo de caso e realiza-se sessões. Num segundo momento a criança passa por um período de intervenção psicopedagógica paralelo com sessões de orientação aos pais. Também a prática psicopedagógica clínica é freqüentemente desenvolvida em instituição de saúde, que mantém atendimento psicopedagógico à criança proveniente da comunidade e que não teriam condições financeiras para receber este tipo de assistência em clínicas particulares.





A importância da análise do funcionamento escolar



Embora muitos psicopedagogos tenham o curso de pedagogia, ou sejam professores, existem também uma grande porcentagem de profissionais que procuram a psicopedagogia para melhorar sua atuação profissional, como psicólogos, fonoaudiólogos, terapeutas ocupacionais e outros que atuam direta ou indiretamente, na instituição escolar.

Portanto, quem quer que se proponha a trabalhar em uma escola precisa informar-se sobre os objetivos da mesma, para que possa atuar com eficácia. Essa necessidade é particularmente relevante para o profissional que irá desempenhar na escola a função de articulador entre o ensino e a aprendizagem de todos os elementos dessa instituição, provocando mudanças e ajudando no processo evolutivo individual e coletivo.

A escola tem uma organização formal e uma organização informal. O conhecimento e a observação da organização formal possibilita ao psicopedagogo a análise da organização informal, pois nessa estão envolvidos os relacionamentos “não visíveis”de uma escola. A organização formal é constituída de elementos sujeitos à influência da administração e intencionalmente organizada de forma a conduzir à consecução dos objetivos escolares, podendo ser dividida em quatro grandes áreas: Programação, Recursos materiais, Pessoal Escolar e Corpo Discente.

A Programação de uma escola consiste na previsão das atividades a serem realizadas e das inter-relações a serem mantidas para que os objetivos possam ser alcançados. Portanto, a programação é função dos objetivos. Fazem parte da programação o mecanismo administrativo, o plano didático e os planos de trabalho.

É importante que o psicopedagogo faça uma análise sobre a programação da escola para poder subsidiar sua atuação. O mecanismo administrativo de uma escola é representado pelo seu organograma, desta forma, o psicopedagogo poderá iniciar seu diagnóstico escolar pela análise do mesmo, ou seja, estudando as suas relações e fazendo suas conexões com as outras áreas da programação. Em outras palavras, fazendo uma análise se cada profissional da escola está desempenhando adequadamente a sua função e o que poderia ser melhorado.

Quanto ao plano didático, ou seja, o currículo e o programa organizado de acordo com uma seriação que acompanha o desenvolvimento dos alunos em seus vários aspectos ( físico, intelectual, social, etc. ), algumas escolas apresentam um excelente currículo e ótimos programas, mas pecam na divulgação do conteúdo, ou seja, como ensinar. Desta forma, a análise do psicopedagogo deve estar voltada para recursos que possam amenizar as inseguranças dos professores na transmissão do conhecimento, como também para oferecer a esses, técnicas e estratégias mais adequadas à aprendizagem.

Os planos de trabalho representam a implantação do plano didático e os resultados do planejamento escolar, tendo em vista as possibilidades do mecanismo administrativo e as metas estabelecidas. Cabe ao psicólogo observar se os planos de trabalhos estão adequados à faixa etária dos alunos e se atendem às suas exigências cognitivas, podendo sugerir técnicas e estratégias adequadas e mais modernas.

Os Recursos Materiais, compreendem a expressão física da programação como: prédio escolar, instalações, mobiliários, equipamentos didáticos, materiais permanentes e de consumo, verbas entre outros. Os recursos materiais são função da programação. Com uma análise sobre os recursos materiais, o psicopedagogo poderá avaliar o potencial e as possibilidades de sua atuação, frente às necessidades da escola, como também poderá utilizar toda sua criatividade para ampliar esses recursos, no caso de escolas com recursos insuficientes.

O Pessoal Escolar pode ser classificado em: administração (diretor e auxiliar de direção); corpo docente (professores); pessoal técnico (orientador pedagógico, orientador educacional, psicólogo, psicopedagogo, bibliotecário, etc); pessoal auxiliar (secretário, escriturário, inspetores de aluno, serventes). O pessoal escolar deve fazer parte de uma equipe para planejamentos e execução de projetos, visando a melhoria da escola.

O Corpo Discente, ou seja, o aluno deve ser considerado como um ser concreto que sintetizam, em si, inúmeras relações sociais e, sendo assim, deve ser compreendido na medida em que se toma como referência a situação real em que vive. Dentro de uma escola, o corpo discente deve ser avaliado e classificado de acordo com o seu progresso, em séries didáticas, sendo que dentro de cada série, os alunos são agrupados em classes ou turmas. Cabe ao psicopedagogo acompanhar a avaliação, o progresso alcançado e a adaptação do aluno na série ou turma que se encontra.

Desta forma, pode se concluir que a atuação do psicopedagogo dentro da instituição escolar inicia-se por uma análise sobre vários aspectos da organização escolar. Além de ser primordial um trabalho em equipe, junto com professores, alunos e pessoal administrativo, procurando dentro deste contexto melhorar o relacionamento entre si e entre grupos, tendo como meta à melhoria das condições de aprendizagem individual e grupal.

Há muitas funções dentro de uma escola, onde se fundem, nem sempre havendo uma distinção nítida entre elas, principalmente entre o diretor, coordenador pedagógico, orientador educacional, psicopedagogo, psicólogo educacional e professores. Desta forma aparece a necessidade de articulação entre estes profissionais para a configuração de um trabalho que atenda a necessidade de todos. Para que ocorra essa articulação, é necessário que sejam bem esclarecidas as características de cada função dentro da instituição escolar. O psicopedagogo tem a necessidade de conhecer, pelo menos teoricamente, o que seria a função de cada profissional dentro da escola, para poder planejar seu trabalho.

Em síntese, uma escola é funcional quando conta com forte aliança entre a comunidade, o corpo docente e administrativo, os quais trabalham os seus conflitos através da colaboração e diálogo. Esses elementos são flexíveis em sua maneira de lidar com os conflitos, utilizando-se do conhecimento de várias técnicas e métodos adequados. As decisões são tomadas em conjunto e a participação dos alunos é solicitada, mas sem ser igualitária. Cada membro do sistema escolar tem seu papel e função determinada. O psicopedagogo observa e diagnostica o sistema escolar e então cria condições favoráveis para a resolução dos problemas que surgem, fazendo com que o ensinar e o aprender se tornem comprometidos. Sendo assim, a atuação do psicopedagogo dentro da escola exige algumas características básicas.





Intervenção Psicopedagógica na escola



Depois de um bom conhecimento sobre o funcionamento de escola onde vai atuar, o psicopedagogo necessita refletir sobre algumas características básicas e tarefas psicopedagógicas que podem ser realizadas no contexto escolar. Estas sempre devem ser realizadas com apoio em aspectos teóricos/práticos e adaptadas as condições da escola onde o trabalho vai ser desenvolvido.

Para a realização deste trabalho será necessário considerar que:

1- A intervenção psicopedagógica na escola deve ser considerada como um recurso do sistema educacional, portanto, de todos os alunos e professores e não somente daqueles que possuem determinadas características.

2- É uma intervenção que requer uma definição coerente com àquilo que a própria tarefa representa como recurso para a escola e precisa de análise e reflexão constantes, como meio para atingir objetivos.

3- É uma intervenção que, apesar de considerar aquilo que não funciona adequadamente, investiga as características positivas da situação em que se encontram alunos e professores, para a partir delas, poder modificar o que aparece como inadequado.

4- Trata-se de uma intervenção mais global, não necessariamente centrada no indivíduo; este é levado em consideração, mas ao mesmo tempo em que são considerados os demais elementos do sistema com os quais interage.

5- É uma intervenção que não se esgota com a demanda concreta,mas que fica ligada ao contexto específico (sala de aula, instituição) e ao contexto mais amplo (família-comunidade) e que se apóia na rede de serviços e recursos que a comunidade dispõe.

6- A maior parte das tarefas psicopedagógicas deve ser realizadas em equipe (diretor, orientador pedagógico, professores e outros). O trabalho em equipe nem sempre é fácil, mas as decisões devem ser tomadas em conjunto, para que todos assumam responsabilidades. Um trabalho em equipe também impulsiona a cooperação entre os profissionais. Desta forma, o psicopedagogo pode estimular junto ao coordenador pedagógico a formação de equipes de professores, ou comissão de orientação pedagógica, onde se torne possível um projeto comum de construir uma escola democrática para a redução dos problemas de ensino aprendizagem.

Como parte da equipe o psicopedagogo pode participar das seguintes tarefas:

a) colaborar junto com os professores no estabelecimento dos planos de ação de regência mediante análise e a avaliação de modelos, técnicas e instrumentos para o exercício da mesma, assim como de outros elementos de apoio para a realização de atividades docentes de reforço,recuperação e adaptação escolar;

b) assessorar o corpo docente na definição de procedimentos e instrumentos de avaliação, tanto das aprendizagens realizadas pelos alunos como dos próprios processos de ensino;

c) assessorar o corpo docente para o tratamento flexível e diferenciado da diversidade de aptidões, interesse e motivação dos alunos, colaborando na adoção das medidas educacionais oportunas. Como também, trabalhar as concepções dos professores sobre os processos de ensino aprendizagem, assinalando a multidimensionalidade dos problemas de aprendizagem, a importância de se considerar fatores orgânicos, cognitivos,afetivos/sociais e pedagógicos para análise e a necessidade de se trabalhar com a diversidade, ou seja, respeitando as características de cada aluno;

d) colaborar com professores e orientador na orientação educacional e profissional dos alunos, favorecendo neles a capacidade de tomar decisões e promovendo a maturidade profissional;

e) colaborar para a prevenção e para a rápida detecção de dificuldades e ou problemas de desenvolvimento pessoal e de aprendizagem que os alunos possam apresentar,realizar avaliações psicopedagógicas cabíveis e participar, em função dos resultados desta, da elaboração das adaptações curriculares e da programação de atividades de recuperação e de reforço;

f) colaborar com os professores e equipe de apoio no acompanhamento dos alunos com necessidades educacionais especiais e orientar sua escolaridade no início de cada etapa educacional;

g) promover a cooperação entre a escola e a família para uma melhor educação dos alunos, participar no planejamento de reuniões com os pais, privilegiando a integração, a cooperação e a informação, como também, atender individualmente alguns pais quando for necessário;

h) atuar na modificação das expectativas e atitudes dos professores diante do insucesso escolar dos alunos, ou seja, atenuar concepções preconceituosas da escola e dos professores, sobre as dificuldades de aprendizagem da criança;

i) participar de tarefas junto com o ensino de educação especial e

j) realizar atendimentos à alunos ou à grupos de alunos com necessidades específicas, fora da sala de aula.

Algumas sugestões em que o psicopedagogo poderá fazer, atuar dentro

das escolas,como: reuniões sistemáticas com a participação de todos os profissionais existentes na escola: falar/ouvir/propor; elaboração e organização de cursos sobre determinados assuntos; oficinas com atividades práticas, para professores, pais, alunos; palestras; elaboração de cronogramas para atendimento dos pais; elaboração de cronogramas para atendimento individual e/ou grupal de alunos, quando for possível.

Para que o psicopedagogo atinja seu objetivo, realizando estas tarefas na

intervenção psicopedagógica, deverá adaptar sua intervenção de acordo com as necessidades do contexto educacional, se utilizando do seu saber e de sua criatividade.





Relação família-escola e intervenção psicopedagógica



Família e escola têm um objetivo comum: estabelecer as melhores condições para favorecer o desenvolvimento integral das crianças e dos jovens. Este objetivo requer atuações de qualidade em cada um dos sistemas, dirigidos a que as crianças possam ter acesso, progressivamente, à cultura de seu grupo social num processo que repercuta de forma favorável em seu autoconceito, na capacidade de relacionar-se construtivamente com outros e nas suas possibilidades de inserir-se paulatinamente em novas estruturas e sistemas. Mas também requer a existência do conhecimento mútuo, a formação de vínculos e o estabelecimento de acordos entre estes contextos originários como condição necessária para que o potencial de desenvolvimento de cada um deles chegue a se concretizar (Bronfenbrenner, 1987 ). Cada escola é, em si mesma, uma comunidade que estabeleceu ao longo de sua trajetória uma história de relação e afeto entre seus membros; entre a equipe de docentes, com os alunos, entre a equipe e as famílias; em cada caso estes aspectos são diferentes.

O psicopedagogo pode encontrar-se em uma instituição que tem uma boa relação entre a família e escola, bem como poderá encontrar escolas que possuem atritos, incompreensões e conflitos freqüentes, gerando clima de desconfiança e mal-estar que provoca interações tensas e pouco construtivas.

Os psicopedagogos podem contribuir, de maneira proveitosa para o estabelecimento de canais fluidos de comunicação entre a família e a escola. Quando ocorre, essas relações são conduzidas pela confiança e pelo respeito mútuos e articulam-se em torno de algumas metas ou objetivos concernentes a ambos os sistemas. São relações nas quais se buscam os aspectos positivos que possuem todos os interlocutores. Paralelamente, os pais respeitam a tarefa educacional da escola, criando-se deste modo um contexto de relação cômodo para todos.

Huguet (1996), afirma que pais e professores para que se obtenha esta boa relação entre família-escola, atribui fundamentalmente a responsabilidade na escola. O grau em que os familiares possam elaborar expectativas positivas em relação ao bem-estar e à educação de seus filhos na escola vai depender da colhida que esta oferecer não somente aos alunos mas à família em seu conjunto, assim como dos esforços destinados a manter e a cuidar dessa relação. Assim, há uma variedade de intervenções que estão vinculadas à cultura da escola em relação às famílias. Os conteúdos desta relação família-escola são: o caráter sistêmico, mutante e interativo da família; a singularidade da função educacional da família e sua complementariedade com a da escola; o benefício das relações fluidas entre o regente e os familiares e, simultaneamente, a necessidade de estabelecer limites entre ambos os sistemas, evitando as intromissões indesejadas. Outras intervenções dirigidas a levar as famílias a conhecer a escola são: palestras gerais de início de ano, comunicações escritas, personalizadas ou gerais, apresentação de projetos nos quais a escola está envolvida, informar sobre o estilo, as formas de relação que se estabelecem na escola; onde o psicopedagogo pode colaborar ajudando nestas atividades. Todas estas intervenções têm como fim prioritário melhorar a comunicação entre a família e a instituição educacional e fomentar entre elas relações positivas.







A importância da legalização do psicopedagogo como profissão



A Psicopedagogia é uma profissão que atende às necessidades do século XXI. Aprender a Aprender é a premissa deste século, é a condição para podermos viver dentro de um mundo de mudanças rápidas, resultantes do advento da transformação da tecnologia e informática, onde é necessário que a capacidade de transformação das pessoas e conseqüente possibilidade de aprendizagem seja intensamente cuidada.

Aprender a Aprender, objeto de estudo e de atuação da Psicopedagogia. A Psicopedagogia pertence à Educação e Saúde e as instituições em geral. É procurada prioritariamente por educadores que querem mostrar às crianças, jovens e adultos, a sua possibilidade de aprendizagem. A Psicopedagogia é uma realidade, um fato.

A Psicopedagogia surgiu de uma demanda específica da sociedade: o fracasso escolar, a falha na aprendizagem, o insucesso do ensino.

Podemos dizer hoje, e afirmar que a Psicopedagogia não é uma disciplina híbrida, não surgiu em laboratório, não é um produto da pedagogia e da psicologia e, com isto, não se restringe, absolutamente, a estas duas áreas. É sim, um espaço transdisciplinar, pois se constitui a partir de uma nova compreensão acerca da complexidade dos processos de aprendizagem e, dentro desta perspectiva, das suas deficiências.

É uma área portanto, que não se volta apenas aos psicólogos e pedagogos. Utiliza conhecimentos advindos da pedagogia e da psicologia, assim como de várias outras áreas de conhecimento, alcançando aquilo que denominamos de transdisciplinaridade. É uma área que requer um estudo específico, que vai além do conhecimento adquirido pelos profissionais acima mencionados.

O psicopedagogo é um profissional que também se dedica ao assessoramento da instituição escolar, visando assegurar ao profissional desta instituição as condições necessárias para uma melhor compreensão do complexo processo de ensinar e aprender. E é parte deste processo a compreensão, por parte do professor, de seu próprio o processo de aprendizagem. Neste sentido, o trabalho desenvolvido pelo psicopedagogo institucional permite a composição de determinadas medias, próprias à análise de cada instituição, as quais proporcionam melhores condições e qualidade de trabalho aos docentes.

A grande expansão dos cursos de formação e especialização em Psicopedagogia é sinal do reconhecimento deste profissional. Desde a década de 70 esta formação vem ocorrendo em caráter regular e oficial, em instituições universitárias. Esta formação foi regulamentada pelo MEC em cursos de pós-graduação e especialização, com carga horária de 360 horas.

Portanto, isso mostra que mais uma vez há importância da legalização do Psicopedagogo como profissão é fundamental, para fortalecer e dinamizar as áreas de saúde e educação em nosso país; colocar a favor do desenvolvimento de nosso país na forma de efetivos contribuidores.





Conclusão



Atualmente, a Política Educacional Brasileira está resguardada na Constituição de 1988 que garante à todas as crianças de 7 aos 14 anos o direito a educação, sendo esta obrigatória e gratuita. Em contrapartida as estatísticas nos mostra que nem todas as crianças nesta faixa etária estão freqüentando as escolas, ou aprendendo como deveriam, ou seja, não estão recebendo um nível de educação necessário as demandas futuras, sejam elas sociais ou de adaptação psicossocial.

Numa avaliação basicamente numérica, pode-se dizer que a imensa maioria das crianças em idade escolar está matriculada no ensino fundamental. Há registros de grande avanços na área educacional; em 1991, 89% dos jovens entre 7 e 14 anos estavam matriculados no ensino fundamental; em 1999 eram 95,4% e em 2000 um percentual superior a 96%; isto representa aproximadamente 5 milhões de alunos a mais na escola, ao longo deste período. Mesmo assim, especialistas no assunto apontam que esses índices estão longe de refletir um sucesso absoluto das recentes políticas públicas para o setor.

Outros fatores preocupantes são a evasão e repetência, aponta o relatório que

nosso país tem a maior expectativa de repetência das crianças ao entrar no ensino fundamental, entre os 16 países subdesenvolvidos estudados. Em 1995, uma em cada quatro crianças da 2ª série do ensino fundamental apresentavam defasagem de idade e em relação a evasão escolar, as pesquisas mostram que a expectativa de conclusão do ensino fundamental (8ª série) é de 72%. O índice de abandono da escola é de 18% ao ano, na média do país, onde nem sequer concluem a 1ª etapa da educação do ensino fundamental; seriam os analfabetos do nosso país.

De acordo com todos esses dados estatísticos, defronta-se com várias perguntas relacionadas à educação no Brasil: “Será que as mudanças no sistema poderão reverter esse quadro?” “Ou será que essas mudanças estão indo de encontro com as necessidades das nossas crianças?” .Observa-se que está ocorrendo mudanças no Sistema Educacional Brasileiro para tentar reverter esse quadro. Para isto implantou situações que reduzem os índices de repetência e corrigem a distorção idade-série, projetos com o objetivo de proporcionar avanços, investimentos públicos para a educação, dentre outras mudanças.

Sabe-se que o desenvolvimento de uma nação, dá-se através da Educação de qualidade de seu povo. É necessário portanto, investir muito mais na educação, na formação geral dos profissionais.

A LDB[1] reza no Título VI, dos Profissionais da Educação, artigos 61 usque 67, sobre a formação dos profissionais da educação, onde realmente ocorre escassez dos conhecimentos das diferentes áreas dos professores e mais limitado os conhecimentos do campo psicopedagógico. Portanto há necessidade do profissional da educação se aperfeiçoar, se propor a investigar e a entender a aprendizagem com base no diálogo entre as várias disciplinas, isso ocorre com a Psicopedagogia, onde o psicopedagogo é outro profissional, com um outro referencial, a partir de um outro conhecimento e com um outro olhar.

De acordo com a pesquisa bibliográfica e documental realizada, reconheceu-se os efeitos da rotulação ou dos problemas de aprendizagem na escola observada, necessitando ainda mais da atuação do profissional psicopedagogo dentro dela; trabalhando com diagnósticos, auxiliando os professores na sala de aula e principalmente na prevenção dos casos de crianças com problemas de aprendizagem, evitando mais um fracasso escolar.

Portanto, a regulamentação da profissão psicopedagogo, contribui para a percepção global do fato educativo, para a compreensão satisfatória dos objetivos da Educação e da finalidade da escola, possibilitando uma ação transformadora.



Referências Bibliográficas



ALENCAR, Eunice Soriano. Novas Contribuições da Psicologia aos Processos de Ensino e Aprendizagem. São Paulo: Ed. Cortez, 1992.182p.



MASINI, Elcie F. Salzano (orgs). Psicopedagogia na Escola buscando condições para a aprendizagem significativa. São Paulo: Ed. Unimarco, 1994. 140p.



NISKIER, Arnaldo. LDB – A nova LDB da Educação. 5.Ed. Rio de Janeiro: Consultor, 1996. 305p.



NOFFS, Neide. Compartilhando. In: Psicopedagogia. Revista da Associação Brasileira de Psicopedagogia, 1998 Nº. 43 (17).



OLIVEIRA, Vera Barros et al; BOSSA, Nádia Aparecida (org). Avaliação Psicopedagógica da criança de sete a onze anos. 2.Ed. Petrópolis: Vozes, 1997. 215p.



PAROLIN, Isabel Cristina Hierro. Psicopedagogia On Line: Dificuldades com a Aprendizagem – A Psicopedagogia Hoje, São Paulo, set.2001. Disponível em: Comentários@psicopedagogia.com.br. Acesso em: 04/03/ 2002.



PSICOPEDAGOGIA ON LINE: regulamentação. Projeto de Lei nº 3.124-A/97, São Paulo, set.2001. Disponível em: http://www.psicopedagogia.com.br/novas/educação.htm. Acesso em: 30/09/2001.



SCOZ, Beatriz. Psicopedagogia e realidade escolar: o problema escolar e de aprendizagem. 6Ed. Petrópolis: Vozes, 1994. 152p.



SCOZ, Beatriz Judite Lima et al. Psicopedagogia: Contextualização, Formação e Atuação Profissional. 1Ed. Porto Alegre: Artes Médicas, 1992. 143p.



SISTO, Fermino Fernandes (orgs). Atuação Psicopedagógica e aprendizagem escolar. 1Ed. Petrópolis: Ed. Vozes, 1996. 123p.



SOLÉ, Isabel. Orientação Educacional e Intervenção Psicopedagógica. 1Ed.Porto Alegre: Artmed, 2001.252p.

Fonte://http://www.psicopedagogia.com.br/busca/busca_titulo.asp?titulo=psicopedagogia

sábado, 18 de setembro de 2010

Revista Psicopedagogica

Artigos psicopedagogicos, relato de experiencia e outros voce encontra aqui:http://www.abpp.com.br/revista_psicopedagogia/index.asp?ed=80

sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Passaporte da Leitura: Como as crianças entram no mundo da linguagem

Vicente Martins



Estudos mais recentes sobre os processos linguísticos e psicolinguísticos envolvidos na aquisição da linguagem das crianças no período escolar apontam o reconhecimento das palavras escritas como o passaporte das crianças para o mundo da leitura. Aquelas que reconhecem uma palavra escrita em um texto são capazes de desenvolver uma competência discursiva imprescindível para uma boa educação leitora e, mais ainda, para conviver com os outros na sociedade do conhecimento.



Ensinar os alunos a reconhecerem as palavras escritas nos livros, nos muros, nas placas, nos ônibus, nos sites é, sem dúvida, a principal missão educacional dos professores de língua materna e da escola de Educação Básica, isto é, formar leitores hábeis durante o processo de aprendizagem escolar.

O reconhecimento da linguagem escrita não é, porém, herança genética nem dádiva dos céus. As crianças necessitam de técnicas ou estratégias de reconhecimento das palavras para a leitura proficiente. O reconhecimento da palavra envolve, substancialmente, o domínio dos elementos fonéticos e estruturais das palavras, das regras de acentuação e silabação e a aquisição de um amplo vocabulário visual. São as ambiências escolares, com o ensino sistemático da língua materna pelos professores e com o apoio dos pais, que, fundamentalmente, levam as crianças a aprenderem e reaprenderem o reconhecimento da linguagem no mundo da leitura e da escrita.

Sem o reconhecimento da palavra escrita, não é possível o desenvolvimento da capacidade de aprender, soletrar, decodificar e compreender um texto escrito. Por definição, reconhecimento da palavra é o processo de determinar a pronúncia e algum grau de significado de uma palavra na forma escrita ou impressa. Também podemos definir o reconhecimento da palavra como a identificação rápida e fácil da forma, da pronúncia e do significado apropriado de uma palavra encontrada anteriormente em texto escrito ou impresso. É ele que aproxima o mundo da escrita do mundo da leitura, a palavra escrita da palavra falada, e faz com que a leitura de um texto escrito aprimore, por sua vez, o desempenho linguístico das crianças na escola, desde a Educação Infantil à Educação Básica.

Para o reconhecimento da palavra escrita, são necessárias as seguintes habilidades linguísticas:

(1) Percepção da palavra
(2) Identificação da palavra
(3) Discriminação da palavra

1 A percepção das palavras escritas

O processo de reconhecimento da palavra requer do leitor a percepção dela. Em que consiste a percepção da palavra? Consiste na identificação visual ou auditiva de uma palavra e algum grau de significado.

Graças à percepção da palavra, o leitor tem o conhecimento do significado apropriado após sua identificação ou seu reconhecimento. A percepção das palavras dependerá, todavia, dos significados que estão presentes na identificação e no reconhecimento delas.

O linguista Ferdinand de Saussure, no início do século XX, viu nas palavras mais do que “[...] unidades da língua escrita situadas entre dois espaços em branco ou entre espaço em branco e sinal de pontuação” ou “[...] unidades pertencentes a uma das grandes classes gramaticais, como substantivo, verbo, adjetivo, advérbio, numeral, etc., não levando em conta as modificações que nelas ocorrem nas línguas flexionais, e sim, somente, o significado” (visão gramatical). As palavras vão além das categorias gramaticais, especialmente nomes, substantivos, adjetivos e advérbios.

Para Saussure, as palavras eram (e são) signos linguísticos, isto é, são unidades linguísticas constituídas socialmente pela união de um conceito, ou significado, e de uma imagem acústica, ou significante, geralmente através de uma relação arbitrária, pela qual não existe uma semelhança formal entre o significante e o significado.

O estruturalismo saussuriano entendeu por significante a “[...] imagem acústica que é associada a um significado numa língua, para formar o signo linguístico”. Segundo o mestre de Genebra, essa imagem acústica não é o som material, ou seja, a palavra falada, mas, sim, a impressão psíquica desse som. Com essa compreensão do significante, nasciam as bases da Psicolinguística, ramo da Linguística que estuda a relação mútua entre o comportamento linguístico das pessoas e os processos psicológicos que se encontram, supostamente, por trás desse comportamento.

O linguista franco-suíço entendeu que as palavras tinham, do ponto perceptual, um significante, uma imagem acústica, entendida como uma “[...] face material, sensível, do signo linguístico (significante) ligada ao significado”. Para se entender bem esse conceito, bastar-nos-á lembrar palavras que, quando ditas ou ouvidas, nos sugerem nojo, repulsa, revolta ou tristeza. Uma palavra ou frase de efeito pode levar alguém a lágrimas de alegria ou de tristeza.

Por outro lado, Saussure viu, no signo linguístico, o significado definido como “[...] conteúdo semântico de um signo linguístico; acepção, sentido, significação, conceito, noção” ou, como assinalariam, mais tarde, os linguistas contemporâneos, o significado é “[...] a face do signo linguístico que corresponde ao conceito ou conteúdo”.

A rigor, só podemos dizer que o leitor tem a percepção da palavra quando é capaz de encontrar certo grau ou matiz de significado nela; daí entenderemos que o significado é central no processo de leitura, muito mais do que uma simples soletração ou decodificação leitora. É através do significado que o leitor poderá compreender, por meio das palavras do texto, o sentido possível, viável e atribuído ao texto pelo autor. É pelo significado que o leitor constrói o sentido do texto.

A percepção da palavra, através da identificação do significado linguístico, permite o alcance do significado da palavra e do sentido do texto, na verdade, dos sentidos textuais. Pelo menos duas formas de significado podem ser decantadas através da percepção da palavra: (1) significado gramatical: noção semântica que está contida nos morfemas gramaticais de uma língua e que é estabelecida dentro de um determinado sistema linguístico e dele depende; e (2) significado lexical: recorte que a semântica de uma língua faz na realidade físico-biossocial e que constitui o conteúdo de morfemas lexicais (raízes, semantemas, radicais, etc.), substantivos, adjetivos, verbos e advérbios.

Durante a leitura, se o leitor percebe que uma palavra traz um significado gramatical e lexical, terá as bases para a compreensão literal do texto e, a partir dessa competência, poderá inferir, ou seja, atribuir sentido ao texto lido; portanto, interpretá-lo. Encontrar sentido antes, durante e depois da leitura é, na verdade, desenvolver a faculdade de sentir ou perceber, de compreender e de julgar o texto. À luz da Filosofia, diríamos que é o sentido que nos permite captar uma determinada classe ou um determinado grupo de sensações, estabelecendo um contato intuitivo e imediato com a realidade e assentando, dessa maneira, os fundamentos empíricos do processo cognitivo. A leitura é um ato cognitivo. Mais do que um ato de produção de linguagem, sua complexidade a torna uma habilidade plenamente cognitiva.

Pensando na compreensão literal durante o processo de leitura, o sentido atribuído a um texto, no primeiro momento, expressa-se como “[...] aquilo que uma palavra ou frase podem significar num contexto determinado”. Em se tratando de procedimentos de leitura, poderemos falar em compreensão literal e compreensão inferencial.

A compreensão inferencial vai além do literal, enquanto a compreensão literal possibilita a localização de informações explícitas no sentido. Graças a ele, poderemos fazer inferência, de modo a permitir, por exemplo, a identificação de informações implícitas, uma vez que identificamos o tema e distinguimos fato de opinião relacionada a esse fato.

2 A identificação das palavras escritas

A identificação da palavra escrita é o processo de determinar a pronúncia e algum grau de significado de uma palavra desconhecida.

As habilidades de identificação da palavra comumente ensinadas são as seguintes:

Análise fônica.
Análise estrutural.
Habilidade no uso de dicionários.
Indícios de configuração.
Indícios de ilustração.
Indícios do contexto.
A análise fônica na identificação da palavra

No processo de ensino-aprendizagem da leitura, a identificação das palavras ocorre a partir dos sons da fala. O processo de análise fônica envolve a associação de sons da fala com letras e a combinação desses sons em sílabas e palavras. Na leitura inicial ou na chamada decodificação leitora, os leitores disléxicos, por exemplo, deixam de desenvolver, com proficiência, a habilidade de análise fônica.

No livro Leitura: Teoria, Avaliação e Desenvolvimento (Artes Médicas, 1987), Mabel Condemarín e Felipe Alliende afirmam que o aperfeiçoamento das habilidades envolvidas na análise fônica ajuda a criança a obter a adequada pronúncia das palavras. É através da análise fônica, segundo os autores (1987, p. 99), que a criança passa a dominar, progressivamente, a ortografia de sua língua materna e desenvolve, assim, habilidades para a rápida decodificação de palavras que contenham:

Consoantes de duplo fonema, como c, g.
Consoantes de duplo grafema (dígrafos): ch, lh, nh.
Consoantes seguidas de u mudo, como gue, gui, que, qui.
Consoantes seguidas de u pronunciado, como gue, gui, que, qui.
Ditongos e encontros vocálicos.
Encontros consonantais complexos, como obs, obv, str.
Grupos consonantais, como br, dr, tr, fl, bl.
A análise estrutural da palavra

A teoria da linguagem em muito pode contribuir para o desempenho do leitor em se tratando de identificação da palavra.É o caso da estrutura e formação das palavras, aqui simplesmente chamada de análise estrutural. Se, de um lado, a pronúncia escorreita dos fonemas e a consciência fonológica ajudam na decodificação leitora, isto é, na soletração da palavra, diríamos que os morfemas são fundamentais para a identificação das palavras escritas. O que são morfemas? Morfemas são, linguisticamente, as menores unidades linguísticas que possuem significado, abarcando raízes e afixos, formas livres (ex.: mar), formas presas (ex.: sapat-, -o-, -s) e vocábulos gramaticais (preposições, conjunções).

Para o estruturalismo norte-americano, o morfema pode ter, ainda, outras manifestações, como a ordem das palavras na frase, indicando as funções sintáticas dos constituintes ou a entonação sozinha, que pode mudar o sentido de um enunciado: “Você vai.” / “Você vai?”.

Eis os principais tipos de morfema relacionados com a linguagem escrita e decantados durante o processo leitor:

Morfema derivacional: trata-se de um afixo que cria um novo vocábulo, combinando-se com um radical (ex.: -eir, -o em livreiro); afixo derivacional.
Morfema flexional: o que é empregado na flexão dos substantivos, dos adjetivos ou verbos, sem mudar a classe da palavra (ex.: o -s do plural em irmãs); afixo flexional.
Morfema gramatical: um tipo de afixo que se acrescenta aos radicais dos nomes e verbos para expressar noções gramaticais de número, gênero, caso, pessoa, tempo, modo, etc., ou vocábulo da gramática (ex.: preposições, artigos e partículas que criam relações gramaticais na frase).
Morfema lexical: cada unidade indecomponível em unidades menores pertencente ao inventário ilimitado e aberto do léxico [aqui se incluem aquelas que ocorrem independentemente e as que só ocorrem combinadas com outros morfemas (derivacionais ou gramaticais), formando palavras].
Durante a leitura, os bons e maus leitores, inclusive os que apresentam dificuldades no aprendizado da leitura (dislexia) para identificar as palavras escritas terão que encontrar os elementos do significado das palavras, como re e ler na palavra reler.

A análise estrutural é poderosa auxiliar no entendimento do significado de uma palavra como um todo.

A análise estrutural (vem da noção de estrutura da língua ou das palavras), ou análise morfêmica (vem de morfema), em geral, envolve a identificação de:

Afixos: infelizmente, em que in- é prefixo; feliz, raiz; e -mente, sufixo.
Contrações ou aglutinações: fidalgo (filho de algo).
Terminações flexionadas e derivadas (desinências): casa, casas, casinhas.
Formas com hífen: pé-de-meia.
Palavras compostas: guarda-roupa.
Raízes: cabeleira vem de cabel-o.
Silabação: depósito (substantivo) X deposito (verbo).
A análise estrutural é usada como um recurso para a pronúncia ou leitura em voz alta ou, em combinação com a análise fônica, em programas de análise das palavras nos chamados métodos fônicos de leitura, os mais indicados para os casos de dislexia fonológica, isto é, nos casos em que os disléxicos apresentam dificuldade no reconhecimento de palavras e na correspondência de letras com sons da fala (fonemas).

Os indícios de contextos da palavra

No processo de leitura, o indício do contexto permite que os leitores tenham uma informação do cenário textual imediato que ajuda a identificar uma palavra ou um grupo de palavras, como por meio de palavras, frases, sentenças, ilustrações, sintaxe, tipografia.

No processo de leitura, o indício do contexto permite que os leitores tenham uma informação do cenário textual imediato que ajuda a identificar uma palavra ou um grupo de palavras, como por meio de palavras, frases, sentenças, ilustrações, sintaxe, tipografia.



Os indícios de configuração da palavra

Nas práticas de leitura, particularmente nos anos iniciais do Ensino Fundamental (1º a 5º ano, ou a partir dos seis anos), o indício de configuração é uma forma ou um contorno que auxilia na identificação da palavra. Em especial, o padrão que as letras fazem acima e abaixo do corpo principal da palavra, como em feliz, geleia, general, leitura. Graças a essa habilidade é que podemos distinguir os diversos tipos de letras na escrita:



Letra ascendente: letra cuja haste preenche o ombro superior do tipo, como d, l.
Letra caligráfica: letra manuscrita, grafada com elegância e harmonia, segundo certos padrões de estilo ou de beleza e excelência artística.
Letra capital ou capitular: letra grande, em geral ornamentada, com que se inicia um capítulo.
Letra de forma: letra impressa, letra de imprensa, letra redonda.
Letra de médico: letra ruim, pouco legível.
Letra descendente: aquela que ultrapassa a parte inferior da linha do tipo, como g.
Letra garrafal: caracter muito grande e legível.
Letra maiúscula: letra de tamanho maior e formato próprio, cuja fonética é a mesma de sua correspondente minúscula, sendo, geralmente, usada em início de períodos e de nomes próprios e como fator de destaque de certas palavras; letra capital, letra capitular, versal.
Letra média: aquela que nem é ascendente nem é descendente, como a, c, m, r, etc.; letra curta.
Letra minúscula: letra de tamanho menor em relaçãoà sua correspondente maiúscula e de formato próprio, mais apropriado para os textos em geral. É mais usada do que a maiúscula, exceto no início de período e de nome próprio.
O uso de dicionários

Na identificação das palavras, o uso de dicionários se faz necessário na medida em que desenvolve, no leitor, habilidades cognitivas relacionadas com a linguagem — como identificar uma palavra em um dicionário, na ordem alfabética, em série, respeitando a lógica da família lexical —, que são necessárias para muitos exercícios ou atividades metalinguísticas no aprendizado da leitura e da escrita.

3 Discriminação das palavras escritas

A discriminação das palavras pode ser definida como o processo de notar diferenças em palavras, especialmente em seus contornos visuais ou formais em geral. Para que isso seja possível, os leitores proficientes e, menos, os leitores disléxicos devem notar semelhanças e diferenças nas formas ou formatações das palavras escritas.

Ao certo, a discriminação visual deve ser entendida como o processo de perceber semelhanças e diferenças em estímulos por meio da visão, especialmente de textos. Sem essa capacidade, as crianças, especialmente as disléxicas, trocam grafemas (letras) simétricas como p, b, q e d.



Durante o ensino sistemático da caligrafia, na Educação Infantil e nos anos iniciais do Ensino Fundamental, os professores devem levar em conta que a habilidade caligráfica está muito relacionada com a destreza e o automatismo das crianças em desenhar algumas formas básicas e geométricas. Vejamos, no quadro a seguir, a relação entre forma geométrica e signo alfabético:

Quem é capaz, na Educação Infantil, de copiar ou desenhar as figuras círculo, cruz, quadrado, triângulo e losango desenvolverá, nos anos iniciais do Ensino Fundamental, a habilidade de grafar as letras minúsculas e maiúsculas do alfabeto.

UM CÍRCULO
(aos 3 anos de idade)

a b c d e g o p q u h m n s
B C G O P Q U D S

UMA CRUZ
(aos 4 anos de idade)

v x z t
T X Z

UM QUADRADO
(aos 5 anos de idade)

t f z i j l r
A E F H I L M N P R

UM TRIÂNGULO
(aos 5 anos e 6 meses de idade)

v x z
A V X Z

UM LOSANGO
(aos 6 anos de idade, quando ingressa no Ensino Fundamental)

v x z
V X Z N NH I J L

Por isso, um aspecto psicopedagógico dessa capacidade de processamento é o de adquirir sensibilidade aos traços distintivos de materiais impressos comuns, como as letras, as palavras e as frases. Segundo Theodore L. Herris e Richar E. Hodges, no Dicionário de Alfabetização: Vocabulário de Leitura e Escrita (Artes Médicas, 1999, p. 84), aqueles que não desenvolvem a habilidade de discriminação visual não farão o processamento mais rápido e acurado dos textos escritos.

Sugestões de leitura

COLOMER, Teresa, CAMPS, Anna de. Fátima Murad (Trad.). Ensinar a Ler, Ensinar a Compreender. Porto Alegre: Artmed, 2002.
CONDEMARÍN, Mabel, ALLIENDE, Felipe. Leitura: Teoria, Avaliação e Desenvolvimento. Porto Alegre: Artmed, 1987.
CONDEMARÍN, Mabel, MEDINA, Alejandra. Fátima Murad (Trad.). Avaliação Autêntica: um Meio para Melhorar as Competências em Linguagem e Comunicação. Porto Alegre: Artmed, 2005.
ELLIS, Andrew W. Dayse Batista (Trad.). Leitura, Escrita e Dislexia: uma Análise Cognitiva. 2. ed. Porto Alegre: Artmed, 1995.
GRÉGOIRE, Jacques, PIÉRART, Bernadette. Marian Regina Borges Osório (Trad.). Avaliação dos Problemas de Leitura: os Novos Modelos Teóricos e suas Implicações Diagnósticas. Porto Alegre: Artmed, 1997.
GUIMARÃES, Sandra Regina Kirchner. Aprendizagem da Leitura e da Escrita: o Papel das Habilidades Metalinguísticas. São Paulo: Vetor, 2005.
KATO, Mary. O Aprendizado da Leitura. São Paulo: Martins Fontes, 1999.
KLEIMAN, Ângela. Oficina de Leitura: Teoria & Prática. Campinas: Pontes, 2001.
MARTINS, Vicente. O Método Fônico na Alfabetização de Crianças. In: CLEBSCH, Júlio. Educação 2008: as Mais Importantes Tendências na Visão dos Mais Importantes Educadores. Curitiba: Multiverso, 2008.
SMITH, Frank. Beatriz Affonso Neves (Trad.). Leitura Significativa. 3. ed. Porto Alegre: Artmed, 1999.

Vicente Martins é professor da Universidade Estadual Vale do Acaraú (UVA), em Sobral, Estado do Ceará.
E-mail: vicente.martins@uol.com.br.

Fonte:http:// http://www.construirnoticias.com.br/asp/materia.asp?id=1426

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domingo, 13 de junho de 2010

Video Provas Operatorias de Piaget

quarta-feira, 14 de abril de 2010

psicopedagogia: contexto, conceito e atuação



Os primeiros Centros Psicopedagógicos foram fundados na Europa, em 1946, por J. Boutonier e George Mauco, com direção médica e pedagógica. Estes centros uniam conhecimentos da área de Psicologia, Psicanálise e Pedagogia, onde tentavam readaptar crianças com comportamentos socialmente inadequados na escola ou no lar, e atender indivíduos com dificuldades de aprendizagem.
Esperava-se através desta união Psicologia-Psicanálise-Pedagogia, conhecer a criança e o seu meio, para que fosse possível compreender a dificuldade de aprendizagem para determinar uma ação reeducadora e, diferenciar os que não aprendiam, apesar de serem inteligentes, daqueles que apresentavam alguma deficiência mental, física ou sensorial. No início a psicopedagogia teve uma trajetória de caráter médico-pedagógico. Hoje essas ações são independentes, mas complementares.
No final do século XIX educadores, psiquiatras e neuropsiquiatras preocuparam-se com as variantes que interferiam na aprendizagem e começaram a organizar novos métodos para a educação infantil. Nesta época apontaram como grandes colaboradores Seguin, Esquirol, Montessori e Decroly, entre outros.
Nos Estados Unidos, o mesmo movimento se desenrolava, porém a ênfase dada era maior nos aspectos médicos, dando um caráter biológico à abordagem das dificuldades de aprendizagem.
Na Europa o movimento originou a Psicopedagogia. Na outra vertente, o movimento americano proliferou a crença de que os problemas de aprendizagem tinham causas orgânicas e precisavam de atendimento especializado, o que influenciou parte do movimento da Psicologia Escolar. A corrente européia influenciou a Argentina, que passou a cuidar de suas pessoas portadoras de dificuldade de aprendizagem, há mais de 30 anos, realizando um trabalho de reeducação. Os conhecimentos da Psicanálise e da Psicologia Genética, além de todo o conhecimento de linguagem e de psicomotricidade, eram acionados para melhorar a compreensão das referidas dificuldades.
A psicopedagogia chegou ao Brasil em uma época, década de 70, cujas dificuldades de aprendizagem eram associadas a uma disfunção neurológica denominada de disfunção cerebral mínima (DCM) que virou moda neste período, servindo para camuflar problemas sociopedagógicos.
Sampaio(1) confirma que o Brasil recebeu influências tanto americanas, quanto européias, através da Argentina. Notadamente no sul do país, a entrada dos estudos de Quirós, Jacob Feldmann, Sara Paín, Alicia Fernández, Ana Maria Muñiz e Jorge Visca, enriqueceu o desenvolvimento desta área de conhecimento no Brasil.
Temos o professor argentino Jorge Visca como um dos maiores contribuintes da difusão psicopedagógica no Brasil. Foi o criador da Epistemologia Convergente, uma linha teórica que propõe um trabalho com a aprendizagem utilizando-se da integração de três linhas da Psicologia: Psicogenética de Piaget; Escola Psicanalítica (Freud); e a Escola de Psicologia Social de Enrique Pichon Rivière. Visca propõe o trabalho com a aprendizagem em que o principal objeto de estudo são os níveis de inteligência, com as teorizações da psicanálise sobre as manifestações emocionais que representam seu interesse.
A Psicopedagogia é um corpo de conhecimentos estruturada de diferentes maneiras. A seguir destacamos algumas.
De acordo com Alves e Bossa(2) a Psicopedagogia é um campo no qual floresceu o conceito de sujeito autor, é uma área de estudo interdisciplinar que olha para o sujeito como um todo no contexto no qual está inserido, que estuda os caminhos do sujeito que aprende e do apreende, adquire, elabora, saboreia e transforma em saber o conhecimento. A concepção de sujeito autor como aquele que constrói seu pensamento se faz presente através de um “corpo” que sente, existe, ama e proclama sua liberdade de ser, de estar e viver no eterno presente, no eterno agora.
Para Bossa(3) a Psicopedagogia é concebida com uma configuração clínica, ainda que sua prática se dê em um enfoque preventivo e, esse caráter clínico significa levar em conta a singularidade do processo a ser investigado, recorrendo tanto aos diagnósticos e intervenções que lhe são comuns no trabalho institucional e clínico. Para a autora, o termo distingue-se em três conotações: como uma prática, como um campo de investigação do ato de aprender e como uma saber científico. A Psicopedagogia é entendida como uma área de aplicação que antecede o status de área de estudos, a qual tem procurado sistematizar um corpo teórico próprio, definir o seu objeto de estudo, delimitar o seu campo de atuação, e para isso recorrer à Psicologia, Psicanálise, Lingüística, Fonoaudiologia, Medicina, Pedagogia.
Segundo a autora, a Psicopedagogia deve se ocupar do estudo da aprendizagem humana e portanto, preocupar-se inicialmente com o processo de aprendizagem (como se aprende, como essa aprendizagem varia evolutivamente e está condicionada por diversos fatores, como se produzem as alterações na aprendizagem, como reconhecê-las, tratá-las e preveni-las). Seu objeto de estudo é, portanto, um sujeito a ser estudado por outro sujeito. Esse estudo pode ser através de um trabalho clínico ou preventivo. O primeiro se dá na relação entre um sujeito com sua história pessoal e sua modalidade de aprendizagem buscando compreender a mensagem de outro sujeito, implícita no não-aprender. Nesse processo, investigador e objeto-sujeito interagem constantemente. No segundo, a instituição (espaço físico e psíquico da aprendizagem) é objeto de estudos uma vez que são avaliados os processos didático-meto-dológicos e a dinâmica institucional que interferem no processo de aprendizagem.
Ainda, segundo a autora3 (p. 30), na sua função preventiva, cabe ao profissional: detectar possíveis perturbações no processo de aprendizagem; participar da dinâmica das relações da comunidade educativa, a fim de favorecer processos de integração e troca; promover orientações metodológicas de acordo com as característica dos indivíduos e grupos; realizar processos de orientação educacional, vocacional e ocupacional, tanto na forma individual quanto em grupo.
Segundo Scoz (4), a Psicopedagogia é uma área que estuda e lida com o processo de aprendizagem e suas dificuldades e que, numa ação profissional deve englobar vários campos do conhecimento integrando-os e sintetizando-os. Para a autora, a grande questão das escolas é encontrar caminhos que possibilitem ao professor a revisão de sua própria prática descobrindo alternativas possíveis para melhorar sua ação. Isso só é possível se o profissional da educação tiver acesso às informações das várias ciências - Pedagogia, Psicologia, Sociologia, Psicolingüística, de forma a atingir um conhecimento profundo vinculado a realidade educacional que, possibilite uma visão global do aluno.
Para Neves apud Bossa (3) (p. 19) “a psicopedagogia estuda o ato de aprender e ensinar, levando sempre em conta as realidades interna e externa da aprendizagem, tomadas em conjunto. E, mais, procurando colocar em pé de igualdade os aspectos cognitivos, afetivos e sociais que lhe estão implícitos”. Para Weiss apud Bossa (3) (p. 20) ela “busca a melhoria das relações com a aprendizagem, assim como a melhor qualidade na construção da própria aprendizagem de alunos e educadores”.
Segundo Macedo apud Bossa (3) (p. 31) as atividades do psicopedagogo são: orientação de estudos (organizar a vida escolar da criança quando esta não sabe fazê-lo espontaneamente); apropriação dos conteúdos escolares (propiciar o domínio de disciplinas escolares em que a criança não vem tendo um bom aproveitamento); desenvolvimento do raciocínio (trabalhos realizado com o processo de pensamento necessário ao ato de aprender); atendimento de crianças (atender deficientes mentais, autistas ou com comprometimentos orgânicos mais graves).
Meny apud Bossa (3) (p. 31-32) destaca as seguintes especificidades do trabalho: o “distúrbio de aprendizagem” é encarado como uma manifestação de uma perturbação que envolve a totalidade da personalidade; o desenvolvimento infantil é considerado a partir de uma perspectiva dinâmica, e é dentro dessa evolução dinâmica que o sintoma “distúrbio de aprendizagem” é estudado; a neutralidade do papel de psicopedagogo é negada e este conhece a importância da relação transferencial entre o profissional e o sujeito da aprendizagem; objetivo do psicopedagogo é levar o sujeito a reintegrar-se à vida escolar normal, respeitando as suas possibilidades e interesses.
Finalizamos, entende-se que Psicopedagogia é um campo do conhecimento que se propõe a integrar, de modo coerente, conhecimentos e princípios de diferentes Ciências Humanas com a meta de adquirir uma ampla compreensão sobre os variados processos inerentes ao aprender humano. Enquanto área de conhecimento multidisciplinar, interessa a Psicopedagogia compreender como ocorrem os processos de aprendizagem e entender as possíveis dificuldades, situadas neste movimento. Para tal, faz uso da integração e síntese de vários campos do conhecimento, tais como Psicologia, Psicanálise, Filosofia, Psicologia Transpessoal, Pedagogia, Neurologia, e outros. Ao psicopedagogo cabe o papel fundamental de ser mediador nos processos de transmissão e apropriação dos conhecimentos.

REFERÊNCIAS1.SAMPAIO, Simaia. Um pouco da história da psicopedagogia. Disponível em: http://www.psicopedagogia.com.br/opiniao/opiniao.asp?entrID=422. Acessado em Nov. 2006.
2. ALVES, Maria Dolores Fortes; BOSSA, Nádia. Psicopedagogia: em busca do sujeito autor. Disponível em: http://www.psicopedagogia.com.br/artigos/artigo.asp?entrID=809. Acessado em Nov. 2006.
3. BOSSA, Nádia A. A Psicopedagogia no Brasil: Contribuições a partir da prática. 2. ed. Porto Alegre: Artes Médicas Sul, 2000.
4. SCOZ, Beatriz J. L. (org.); BARONE, Leda M. C.; CAMPOS, Maria C. M; MENDES, Mônica H. Psicopedagogia: contextualização, formação e atuação profissional. Porto alegre: Artes Médica Sul, 1991.

Débora Bernardi Grandjean-Thomsen - Psicopedagoga
Fonte:http://www.intuslegere.net.br/Revista%206/p3-2010%206.htm

Educar Pelo Exemplo